É “só” isso que eu sei fazer

Houve um tempo em que eu tinha o maior tesão do mundo em fazer as pessoas fecharem os olhinhos ao provar um bom brigadeiro.

Era 2010 e minha filha ainda mamava. Eu conheci o trabalho da Juliana Motter e não tive dúvidas: Vou ter meu próprio atelier de brigadeiros gourmet.

Eu já fazia isso pra quase todo mundo que conhecia mesmo. Se, naquele momento, era o que eu sabia fazer, então estava decidido!

Em pouco tempo nasceu a Petite Julie. Foi quase 1 ano de muito trabalho, mas principalmente, de muito amor investido em cada caixinha que saía da minha cozinha.

A marca foi um sucesso na cidade. Eu quase não dava conta das encomendas e tudo ia muito bem, ou quase.

A verdade é que havia em mim uma vergonha imensa do que eu estava fazendo.

Antes da maternidade eu tinha tido uma carreira meteórica em terras paulistanas, em grandes empresas, trabalhando em escritórios que aparentemente me faziam ter mais valor enquanto pessoa.

Pelo menos era isso que eu sentia.

E sempre que alguém que me conhecia de outros tempos me perguntava o que eu estava fazendo agora eu sentia que a minha decisão – pautada tanto no que eu gostava de fazer quanto na liberdade que eu tinha pra estar perto da minha filha pequena – me diminuía.

Respondia de cabeça baixa que era agora “empreendedora” torcendo pra ninguém me chamar de doceira.

Quando percebi esse sentimento em mim fiquei pasma. Me achei o ser mais preconceituoso e ridículo do mundo. Quem raios era eu pra achar que ser doceira é menor que qualquer outra coisa?!?!?!

Até perceber que esse julgamento se referia sempre e tão somente a mim.

Sim, eu sou fã de cada pessoa no mundo capaz de produzir todo e qualquer tipo de doce com amor e qualidade. Doceira(o)s, eu amo e admiro cada um de vocês!!! ❤

E isso se estende a toda e qualquer profissão.

 

E você pode achar que eu tô de brincadeira, mas essa vergonha se repetiu em tudo que já fiz na vida – e olha que de mudar de profissão eu entendo!

Quando eu era produtora de eventos nas maiores agências do país, eu me sentia “só mais uma produtora” – apesar do reconhecimento, do sucesso, da grana e, principalmente, das experiências surreais que vivi nessa época.

Eu não me via como uma mulher, nordestina e super novinha que vencia na selva de pedra.

Quando eu era, aos 15 anos, uma professora de reforço capaz de fazer os moleques mais desinteressados do mundo passar de ano, eu era “só uma menina que ensinava coisas óbvias pra algumas poucas pessoas”.

Eu não me via como uma das poucas pessoas que não desistia daqueles meninos.

Quando eu me tornei roteirista de um programa de TV e propus um formato totalmente inesperado, eu “só tinha feito aquilo… não era nada demais”.

Eu não me via como uma comunicadora inovadora.

E então percebi que TUDO o que eu já fiz na vida foi subestimado. Mas não pelo outro, por mim!

Eu acreditei que se era natural, fácil e gostoso de fazer, não tinha valor!

Tanto que quando fui assessora de um político na minha cidade – sim, temos que pagar contas, não me julgue! hahaha – eu tinha o maior orgulho de falar sobre isso!

Porque era chato, pagava pouco e era muito difícil pra mim. Então, aí sim, devia ser importante, devia ter valor… ¬¬’

O que eu quero dizer com tudo isso?!

Simples: NÃO faça como eu!

Não fique a vida toda julgando que o que você faz de melhor é “só isso”.

Se é isso que você sabe fazer, cara, abraça! SE abraça e vai fazer porque certamente alguém precisa exatamente de você!

Pode não ser calmo como você espera que um caminho mais “valoroso” – ou doloroso – seja, mas deixa eu te contar: O que você não sabe fazer e precisa se esforçar, pasme, não é mais fácil! Não é melhor e não tem garantia nenhuma de que vai dar certo!

É como eu vi essas semanas na página da genial escola Perestroika: #AceitaIdiota – Nunca serás quem não és!

Hoje o que eu sei fazer de melhor é “só” viver e fazer das minhas experiências palavras, videos, perguntas e qualquer coisa que eu saiba fazer de um jeito que toque e inspire outras pessoas.

E ao abraçar isso nasceu esse blog, nasceu a Jornada Viver de Verdade, meu trabalho como coach, minha participação no TEDx Pajuçara, a coluna Descomplicando a Felicidade no jornal Cinform e por aí vai…

E tudo o que foi preciso pra admitir que viver (d)isso é uma possibilidade foi sentir que o meu servir é tão importante quanto o de cada pessoa que me serve.

Afinal, não é essa a grande chave da vida? Dar e Receber?

Servir com a minha verdade e dar ao outro a oportunidade de me servir também?

Eu acho. ¯\_(ツ)_/¯

valkirias-jkrowling
“Eu quero ser lembrada como uma pessoa que fez o melhor possível com o talento que tinha.” – JK Rowling

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